O nosso entrevistado da semana é o armador central Diogo Hubner, que já representou o clube de São Caetano, Metodista, Taubaté e hoje faz parte do Esporte Clube Pinheiros.
Diogo venceu quatro Pan-Americanos de Clubes, cinco Ligas Nacionais e seis Campeonatos Paulistas. Pela seleção brasileira conquistou o seu principal título o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015, além de ser campeão duas vezes pelo torneio Quatro Nações, sendo eleito MVP da competição em 2014 e participou dos Jogos Olímpicos 2016. Em entrevista exclusiva o atleta olímpico revela como conheceu o handebol, a sensação de disputar uma Olimpíada em casa, o motivo que não vestirá mais a camisa do Brasil e quais os seus objetivos para 2017.
1) Não podemos começar a entrevista sem antes saber, como você conheceu o handebol?
Eu conheci o handebol no meu colégio em Niterói, através de uma atividade extracurricular que meu colégio oferecia, e o handebol era uma das modalidades. Eu era goleiro de futsal e pela minha alta estatura na época, fui convidado pelo professor de handebol (que coincidentemente era o mesmo do futsal) a participar das aulas e me apaixonei de uma maneira fora de série. Eu me lembro de ter treinado, umas duas vezes e de ter falado pra minha mãe que eu queria jogar handebol e largar o futsal, eu me apaixonei a primeira vista pelo handebol.
2) Quais são suas principais conquistas profissionais?
Eu tenho várias conquistas em clubes, seleção, o que mais simboliza é o título dos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015, que o Brasil retomou após ter sido derrotado em Guadalajara, quatro anos antes. Eu acho que todo título ele tem um sabor especial. Tenho algumas ligas nacionais, alguns campeonatos paulistas, muitos campeonatos cariocas na categoria de base, enfim são muitos títulos que eu me recordo da grande maioria, com muito carinho.
3) O handebol passou por algumas mudanças nas regras antes dos jogos olímpicos de 2016. Quais foram às mudanças?
É, foram algumas mudanças importantes que aconteceram dentro do handebol, algumas que até modificaram a maneira de jogar, que foi o caso do sétimo jogador. Antigamente, para você atacar com sete jogadores você precisava tirar o goleiro, e o jogador que entrava no lugar do goleiro, precisava estar identificado como um goleiro, ou seja, um colete diferenciando esse atleta, e só esse jogador poderia trocar para a entrada do goleiro. Então, poucas equipes utilizavam e quando você tira essa obrigatoriedade do colete de você identificar esse goleiro linha, qualquer atleta pode fazer essa troca. Então algumas equipes, inclusive a Dinamarca conseguiu ser campeã olímpica usando desta estratégia, durante boa parte da olimpíada, e principalmente na final contra a França. E tiveram algumas outras mudanças na regra, um pouco menos relevantes, mas acho que essa foi a principal, a do goleiro linha, que mudou o jogo propriamente dito.
4) A equipe do Brasil se adaptou bem as novas regras?
Para a seleção brasileira realmente mudou nosso jeito de jogar, porque a nossa defesa era uma defesa aberta, então nos buscávamos jogar os atletas do time adversário para longe da nossa defesa, para que os arremessos saíssem cada vez mais longe e também, muito trabalho de antecipação para retomada de posse de bola, tentando não fazer muitas vezes a falta, e sim roubar a bola. E quando você usa esse expediente, e a outra equipe usa o artificio do goleiro linha, realmente dificulta, porque você sempre vai ter uma superioridade numérica, então foi complicado, mas acho que nós conseguimos adaptar bem, conseguimos fazer um bom papel, mesmo com essa regra nova.
5) Vamos falar em jogos olímpicos. O Brasil fez uma excelente competição, chegou pela primeira vez ás quartas de final e conseguiu vencer fortes seleções. Como foi toda essa emoção durante a edição olímpica no Brasil?
Realmente a seleção na Olimpíada fez um papel muito legal, muito bacana mesmo. Conseguimos vencer equipes europeias na nossa chave, vencemos a Alemanha algo que nunca tinha acontecido e aconteceu nos Jogos Olímpicos, o que torna mais magico, mais representativo. E viver tudo isso de dentro foi muito importante pra mim. Foi minha primeira Olimpíada e eu sempre sonhei jogar um Jogos Olímpicos, e eu tive a oportunidade de jogar uma Olimpíada dentro da minha casa, dentro do Brasil e no Rio de Janeiro. Eu nasci em Niterói no estado do Rio de Janeiro, então tive muitos amigos presentes lá, muitas pessoas que eu não via a muito tempo, desde a época de escola. Então foi realmente fantástico, a energia contagiante, a Arena do Futuro estava sempre lotada nos nossos jogos e muita gente conheceu o handebol ali. Conheceu o handebol de alto nível, conheceu a seleção brasileira e foi muito legal, muito importante ter feito parte disso estando dentro da quadra. E a seleção também se preparou muito durante todo o ciclo, com a volta do Jordi para o Brasil, ele fez um trabalho excepcional, capacitou muita gente para estar na seleção. Então, estar ali naquele grupo de 14/15 jogadores, foi um prêmio para a minha carreira.
6) Ter tido a torcida do lado, foi uma motivação a mais para conseguir os bons resultados dentro de casa?
Sem duvida a torcida colaborou muito para os resultados que a gente obteve, mas em alguns momentos a seleção de maneira geral também sentiu essa pressão. Jogos que nos tínhamos que ganhar para ter uma classificação melhor no grupo, que foi o caso do jogo contra o Egito, nos jogamos muito mal, muito abaixo, após um jogo contra a Alemanha, então ficou aquele clima de poxa, ganhamos da Alemanha a gente ganha de qualquer um, e não é assim. Isso é inconsciente, não é que o atleta pensa assim, isso vem lá do inconsciente. Mas enfim, a torcida teve um papel fundamental, empurrando a nossa seleção. Não só no handebol, mas acho que em todos os esportes, eu falo handebol, porque eu estava dentro da quadra e senti isso de muito perto. Mesmo, quando nós perdemos, nos momento de derrotas a torcida também apoiou a gente, eles viram que nós estudamos muito, trabalhamos muito, para dar o melhor dentro da quadra.
7) Após alguns meses da edição olímpica no Brasil, você percebe que há um legado olímpico para o handebol?
Infelizmente acho que não só no handebol, mas em muitos esportes, a gente vê a situação de muitos esportes. Eu agora atuando no Pinheiros convivo com muitos atletas de outras modalidades, e a gente vê que a situação do esporte no Brasil não é fácil e no handebol não é diferente. A gente tem problemas de investimentos no esporte, tem problema de pessoas capacitadas dentro do nosso esporte para ir atrás desse investimento. Então, às vezes a gente reclama muito que as empresas não veem ate o handebol, mas a gente também não leva o nosso produto até eles, não procuramos oferecer um produto handebol legal, para que essas empresas visualizem o nosso esporte, como algo rentável, então acho que é uma mescla de coisas. Realmente após os Jogos Olímpicos deu uma caída, eu já esperava isso, nenhum momento eu me iludi achando que haveria um legado, que o esporte no Brasil iria mudar, mas é triste de ver. É triste ver como está o Parque Olímpico hoje, é triste ver equipes sumindo, equipes diminuindo investimento, atletas desempregados, atletas recebendo muito abaixo de um salário mínimo, então isso é muito complicado e infelizmente nosso país funciona assim.
8) No mês de janeiro a seleção brasileira de handebol disputou o campeonato Mundial e seu nome não estava na lista dos convocados. Você aposentou da seleção ou não foi convocado para essa edição do Mundial?
Após os Jogos Olímpicos comentei com os atletas que eu não voltaria para a seleção e também depois que o Washington assumiu, eu tive uma conversa com ele. Eu senti que meu momento na seleção estava se encerrando, devido à quantidade de lesões, fisicamente eu não consegui acompanhar muito mais o ritmo destes meninos jovens que estão subindo, que estão tomando conta desta geração que está subindo para assumir a Seleção Brasileira. Eu acho também que eu tenho que saber o momento de me retirar, de saber que se eu ainda quero jogar um tempo em clube, eu preciso abrir mão da seleção, porque é muito desgastante estar na seleção, fisicamente e psicologicamente. Eu acho que os anos que eu estive lá, foram anos fantásticos, maravilhosos, não tenho o que falar do que é estar na seleção, porque realmente sempre que eu estive lá e até mesmo antes, quando eu não estava, eu queria estar lá, me doei muito para estar lá, então eu acho que eu fiz o meu melhor para a seleção e sou muito feliz com a história que eu tive, mas eu acho realmente que o momento chegou, e esses meninos novos que estão subindo tem muito talento, muito futuro e estão assumindo a seleção de uma maneira fantástica. Eu acho que tive um papel muito importante, principalmente neste final de fazer essa transição desse pessoal que esta subindo da seleção júnior para a seleção adulta, acredito que eu cumpri o meu papel.
9) Qual a sua avaliação sobre o Brasil no Mundial de 2017? A jovem garotada representou bem o Brasil?
Eu acho que a seleção foi muito bem no Mundial, com pouco tempo que teve de trabalho, com estes atletas estando a grande maioria na Europa realmente fica muito difícil de ter um período longo de treino. Mas, eu acho que devido à circunstancias a seleção foi muito bem, conseguiu vencer a Polônia, venceu outros jogos dentro da chave, mas é sempre complicado, porque por ter uma seleção muito jovem, os meninos ainda oscilam muito emocionalmente dentro do jogo, mas eu acho que é natural, que não é culpa deles. Acredito que no próximo mundial, na próxima olimpíada, acho que isso vai cada vez melhorar e nós vamos atingir resultados cada vez melhores. Perder de um gol pra Espanha nas oitavas de final, com grande possibilidade de vencer o jogo, não é coisa fácil, as pessoas falam “nossa que legal”, é muito legal, é muito difícil fazer aquilo que os meninos fizeram. Eu vou estar aqui sempre torcendo por eles, porque eu sei que são meninos que trabalham muito, a comissão técnica trabalha muito, então eu sou torcedor de carteirinha dessa seleção, e esses meninos estão de parabéns pelo mundial que fizeram.
10) Agora em 2017, você passou a representar o Esporte Clube Pinheiros. Como tem sido a experiência no clube Paulista?
Minha experiência dentro do Pinheiros tem sido maravilhosa mais uma vez, eu tinha tido uma passagem pelo clube durante a Liga Nacional de 2015, porque eu estava na metodista e a metodista não ia jogar a Liga Nacional daquele ano, e fui convidado pelo Pinheiros para jogar a competição por eles e vim até o clube, joguei e conseguimos ser campeões de 2015, e agora apareceu de novo o convite. Eu joguei praticamente a minha vida inteira contra o Pinheiros, sempre foi meu arquirrival, eu joguei durante muito tempo na metodista e contra o Pinheiros, mas eu estando aqui, eu me sinto muito bem, em casa, tenho tido respaldo de toda comissão técnica, diretoria, dos atletas, então é um clube que eu me sinto muito bem, que vem me ajudando muito em busca desses objetivos para o ano de 2017.
11) O estilo de jogar muda muito de um clube para o outro?
É, o estilo de jogo muda bastante, cada treinador pensa de uma maneira, tenta criar artifícios para conseguir vencer as competições e aqui não é diferente também. Tem um estilo peculiar de jogo, mas é um estilo também que já vem se consolidando há algum tempo. O Pinheiros, é uma equipe que fabrica muitos talentos e perde esses talentos para Europa, e com isso sempre teve problemas para montar seu elenco e esse ano, depois de bastante tempo conseguiu manter a base da sua equipe, e trazer reforços, então nós estamos muitos confiantes que o ano de 2017 vai ser muito vitorioso.
12) Quais são os seus objetivos para 2017?
O principal objetivo do Pinheiros esse ano e o meu também é ser campeão Pan-Americano de clube e poder representar as Américas no Mundial de Clubes no SuperGlobe e conseguir os melhores resultados possíveis. Se for ser campeão, a gente vai querer ser campeão sim, se for pra chegar em final, a gente vai chegar em final, estamos trabalhando muito duro para chegar em todas as competições bem e poder conquistar os títulos que o Pinheiros merece.
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