Campeão mundial e representante do Brasil em dois Jogos Olímpicos, judoca encerra carreira competitiva aos 35 anos de idade.
“Encontrar as palavras certas pra falar sobre essa decisão é algo difícil e amedrontador ao mesmo tempo. O judô entrou na minha vida de uma forma arrebatadora, tudo relacionado a esse esporte é apaixonante. E mesmo hoje, quase 30 anos após ter iniciado minha carreira na academia Ivanez, o que sinto é igual ou ainda maior. Após meu primeiro campeonato brasileiro em 1992, acompanhado do meu melhor amigo e incentivador que é meu pai, eu disse que meu maior sonho era ser campeão mundial de judô e medalhista olímpico. Nenhum de nós dois fazia ideia do que seria necessário ser feito pra atingir ou se existiria alguma chance, o que tínhamos no coração era um sonho. E a ele, minha mãe Antônia, minhas irmãs Jeane e Viviane que escrevo nesse momento: nada seria possível sem vocês. Obrigado por todos os momentos vividos que não me cabe descrevê-los aqui.
Comecei minha jornada na minha cidade Natal em Brasília, aos 16 fui convidado pelo sensei Floriano Almeida para ingressar a equipe do Minas Tênis Clube, entidade que represento há 17 anos e me proporcionou toda estrutura necessária para que meus sonhos enquanto atleta de judô pudessem ser alcançados, se tornou uma família e faz parte de mim. Fiz dentro do Minas, amizades que guardo no coração, memórias inesquecíveis da antiga geração, tantos irmãos que me auxiliaram e me mostraram como a prática do judô vai muito além das disputas no tatame.
Meu tio Marcos e minha Tia Janda, que receberam aquele adolescente cheio de sonhos e ansioso pela liberdade que passou a ter: meu muito obrigado.
À Sara, que me ensinou ainda cedo que o amor perdura além dessa vida, eterna saudade. Ao staff do MTC . A todos vocês que fizeram parte de meu convívio e trajetória no esporte: minha eterna gratidão.
Aos meus companheiros de seleção, quantos momentos inesquecíveis: comemoração das vitórias e ombro amigo nas derrotas. Meu padrinho de casamento Leandro Guilheiro, acompanhei de perto sua jornada, e um dos momentos que nunca esquecerei: sua persistência e força, lutando não apenas contra os adversários, mas contra lesões do corpo pra conquistar a merecida segunda medalha olímpica em Pequim.
Quatro anos antes, tive a honra de torcer e assistir meu irmão Flávio Canto conquistar sua medalha olímpica. João Derly, nosso bi campeão mundial de judô e Tiago Camilo, que honra poder ter conquistado uma medalha pro Brasil no mesmo mundial que vocês. Mário Sabino, Leonardo Leite, Renan Nunes,Hugo Pessanha, Rafael Buzacarini, companheiros de categoria; me faltam palavras pra agradecer os ensinamentos e motivação que vocês me proporcionaram. Não fosse pela respeitosa rivalidade, eu não teria persistido. Obrigado e sucesso aos que seguem lutando por seus sonhos, estarei a partir de agora, torcendo do outro lado do ginásio.
Agradeço a todos da Confederação Brasileira de Judô, que represento com orgulho desde 2001, por todo trabalho duro e empenho nas conquistas do judô brasileiro. Paulo Wanderley,Silvio Acácio, Ney Wilson, Luiz Juniti Shinohara, Fúlvio Miyata e toda equipe, vocês fazem parte de cada medalha conquistada por cada um de nós.
Às guerreiras do judô feminino do Brasil, desde Fabiane Hukuda, Rosicleia, Priscila, Ednanci, Dani Zangrando e tantas outras que abriram portas pra que em 2008 Ketleyn Quadros conquistasse a primeira medalha olímpica do judô brasileiro. Sarah, Mayra, Rafaela,Erika, vocês são heroínas, são motivos de orgulho pra todos os judocas e toda nação.
Por falar em heróis, como não citar meu maior ídolo Aurélio Miguel, que tietei pela primeira vez em 1988, e até hoje faço questão de reverenciá-lo; obrigado por seu exemplo, sua entrega e conquistas pro país.
Ao Exército Brasileiro, que pude servir por oito anos com honradez, compreendendo a grandiosidade de vestir a farda verde oliva e ter muito orgulho do meu país. Rauno Símola e André Fernandes, será impossível pra mim expressar a gratidão que tenho pelo apoio a mim ofertado nos momentos mais difíceis e cruciais de minha carreira.
São infinitas as lições aprendidas com o judô, por isso, nunca serei um ex atleta, está impresso dentro de mim os valores aprendidos através do esporte, e são eles que irei carregar pro resto da vida, onde quer que ela me leve.
Tenho consciência e gratidão por tudo que o esporte me proporcionou, e meu desejo, é que essas lições e oportunidades sejam ofertadas a mais e mais jovens desse país, e é através do Esporte sem Fronteiras que busco, humildemente, retribuir tudo que a modalidade me proporcionou.
E minha amada esposa Joanna Maranhão, que conheci em 2009, por toda compreensão, companheirismo e amor a mim dedicados. Obrigado por me ensinar que vale a pena enfrentar e persistir, que vale a pena lutar pra promover sementes de mudança no mundo, por buscar a todo instante melhorar a si mesmo, por todo incentivo nos momentos cruciais e difíceis da jornada, principalmente agora, por toda paciência e longas conversas para chegarmos juntos a decisão que o momento da transição chegou. Meu amor sem palavras pra descrever seu apoio incondicional, eu te amo.
Finalizo essa carta na certeza de que tudo fiz para alcançar meus objetivos, aos amantes do Judô e toda torcida Brasileira, quem me dera fosse possível proporcionar mais momentos de alegria através do esporte, obrigado a cada um de vocês, pela compreensão e apoio nos tristes, porém, necessários momentos de derrotas. Sigo a partir de agora lutando fora do tatame pelo Judô Brasileiro.
Atenciosamente e carinhosamente,
Luciano Corrêa”